terça-feira, 12 de novembro de 2019

125-CAVALO DE VENTO

125-CAVALO DE VENTO

Montado num cavalo de vento
Vivo pelos litorais
A cortar elementos 
Acordando temporais

A Corte aporta instrumentos musicais
A porta aperta cardas cordas cardeais
Cortejos cardãs coram caras cordiais 
Coroas coloridas cavam covas criminais

Ateu Poeta
2015

124-PUMA

124-PUMA

Solidão 
Não tenho tempo para o teu canhão
Nesta vastidão universal
Foste atravessar justo o meu caminho
Deplorável essa ânsia de ser sozinho

Paliativo cintilante, nem sinal
Cada sonho absurdo é transcendental
Amadurecer dói
Quando não se é de metal

Nem super-herói

Arranque em mim tal tristeza afluente
Leve-a pros teus entes d'espuma
Advenho presa-puma preso sem mapa
O labirinto apruma

Ateu Poeta
2015

123-NO SEIO DO MAR

123-NO SEIO DO MAR

O improviso afia a agulha da pena
Reverbera poesia na verde verbena da verve
Não se vive de açucenas
Mas, vale a pena tentar
Feito condor ao vento
Fazer o relento cantar
Toda vez que sangra o coração 
Pulsam versos velejando a estação 
No seio do mar vem a fantasia
Utopia é apenas um patamar
2015

122-NOVOS MIRANTES

122-NOVOS MIRANTES

O poeta se pergunta toda noite
Por que a vida não rouba do tempo o açoite?
A foice cada vez mais afiada 
Brilha ao fim de cada jornada 
Sem lirismo 
Cortando os aforismos do advento 
O carbono se dilui no vento
Mirando novos mirantes
Não interessam os nomes
Mas a poesia do momento
2015

121-EDIFÍCIO SOBRE OMAR

121-EDIFÍCIO SOBRE OMAR

Desapaixonar?
Mais fácil fazer edifício sobre o mar
Viver não é erva
Minerva não mora no quintal
A cada dia se cria um novo ritual
Para enfrentar sei lá o quê 
Já é tanto inferno astral
Acho que a Babilônia é aqui
Você é a mais linda flor
Mas não sou seu colibri
Colírio não fará o céu mais azul
É tão fácil mentir
Conjugar o verbo amar
Já saber o significado
Parece priorado a perecer
Perene pedregulho com orgulho a crescer 
Muros fecham mundos
Por isso vivo a cantar
Quanto mais densa a parede
Mais rápido reverberará 
O delírio por vezes revela verdades veladas
Velejando por eras em tortuosas estradas
Estruturas a vapor causaram mais dor
Do que sanaram
Bombas de hidrogênio desoxigenaram
Armários abrem e fecham
Feito flechas do Gavião 
Já nem sei mais quem foi Sião
2015

120-ODE AO EFÊMERO

120-ODE AO EFÊMERO

A Lua dourada brilha sobre a serra
Toda a Terra vira jardim
De repente vejo o sorriso que perdi
Na multidão dos dias findos
A efemeridade toma conta de mim
Só Platão entenderia essa saudade
Apenas as cavernas são eternas
É breve o som da sanidade
Aquele rosto de neve irradia outros tempos
Templos que não se podem profanar 
Cego é o segador
Serpentes seguem a germinar outra flor
Nas mãos da Pitonisa
Vestais e meretrizes deixam seus matizes
Martírios e rituais
Para outros pentecostais 
Murmúrios na madrugada
Sugam novas jornadas
Jovens não tardam a entardecer 
Sinfonias naturais da passarada
Exalam exílios atemporais
Onde a alvorada vem resplandecer
2015

119-ETERNO ANDARILHO

119-ETERNO ANDARILHO

Átomo 
Partícula particular
Molde de todo o universo
Versos do avesso inverso 
Da reta e da curva
Mão, luva, pai e mãe 
Do DNA
Antítese e retrovírus 
Simbiose de si
Versículo da diversidade em arcadismo
Aforismo em mirone da diáfana imperfeição 
Flui, ferve, faz afago e fere o coração 
A canção e a mente 
Foz demente do ascendente jargão 
Fogo ardente do dragão 
Água, agulha e cometa
Meteoro de Via-Lácteas, Magalhães e Aldebarã
Soldado, meretriz e cafetão
Juiz, Alcatraz, capataz, algoz e ladrão 
Sinfonia sem som que semeia o caos
A paz sempre jaz em teu seio azul
Tanto faz se tocam reggae, jazz ou blues
O sideral será eternamente o mesmo 
Afluente olho do abismo 
Exala as cadências do lirismo
E congela a luz na escuridão 
Só não sabe parar
Grande andarilho de ínfima proporção 
Também não consente ao infinito
Aquele grito aflito de atrito à criação
2015

118-A MÚSICA MORA DENTRO DE MIM

118-A MÚSICA MORA DENTRO DE MIM

Teu sorriso de vulcão 
Brilhou em minha direção 
Indescritível emoção 
Paralisou o meu coração

Foi então que eu morri
E renasci canção 
Quando a flor do desejo se fez frenesi
Teu olhar é rosa vermelha e jasmim

Tuas curvas são sedução sem fim
Tua boca, amoras no jardim
Só não sinto solidão, enfim 
Porque toda paixão mata e cura

Não sei porque a vida é dura assim 
Mas, a música mora dentro de mim

Ateu Poeta
2015

117-ANALFABETO FUNCIONAL

117-ANALFABETO FUNCIONAL

O antinatural já se naturalizou 
Quando o policial se marginalizou 
O próprio ritual se santificou 
E tudo igual para sempre ficou

Menores são maiores para crimes cometer 
Mas, a lei deixa escapar
Será o certo a fazer?
Aprisione o transgressor

Para o social não fenecer
Sem segurança o progresso nunca irá acontecer 
Ditadura seria um retrocesso banal
Temos que reformar a constituição federal

O analfabetismo político mata muito mais que a fome
Cada canalha rouba o quanto pode e depois some

Ateu Poeta
2015

116-CELO E CELA

116-CELO E CELA

A História está condenada
Ao chão de vez ser enterrada
Esculpida, cuspida e adornada
Por pirata disfarçado de historiador

E o real cientista no dissabor
Relegado ao relento, sem real algum
A escrita não é nenhum tambor
Presidentes ladrões seguem a plagiar

E a colher os louros pelo ar
Roubando tesouros dos trabalhadores
Em partidos vermelhos, manipuladores
Cravam a mandíbula de jovem explorador

Em associações culturais
Ludibriando universidades estaduais
Virando mestres em federais
Fedelho frágil e vira-mundo

Falsificador
Leva todos no bico com louvor
No museu vende celos postais
Com auxílio do xará de seu criador

O pior disso tudo, Doutor
É ver buraco-negro brilhar como estrela
Carrapato usar blusa vermelha
Fingindo que o sangue do outro é seu

Escondendo tudo o que bebeu
Parasita que cresce a procriar
Mais um abutre a se fartar
Maculando a cidade que o acolheu
2015

115-AVIÃO

115-AVIÃO

Última gota de cicuta
Civuca não escuta
Sinuca na labuta
Eu quero viver

Flor que aflora envolta
Flora a fenecer
Floresta na ribalta
Fortalecer

Dose adocicada
Doze é falsa jornada
Doroteia alucinada
Divino adolescer

Sei que não se sabe
Sobre segredos do sabre
O Sol sobe feito ave
Águia, condor ou gavião

O coração do sábio é um avião
2015

114-LETAL BEIJO DE METAL

114-LETAL BEIJO DE METAL

Perdi meu amor
Monamour
Mon chéri

Para, repare
Talhe o tênue detalhe
Não cale, se declare

Touche
Tic-tac
Emotion

Slow motion
Apaixone a própria paixão 
Aprisione a próxima prisão

Acione a ação ao som de Alcione 
O tempero do desespero é a destemperança 
Na tempestade a liberdade dança

Têmpora, temporal atemporal
Pra que mais fixo que o virtual?
Surfar o sufixo azul

Entoar um jazz em blues
Transformação transacional
Pedaço de chão no espaço-sideral

Beira, bar, balcão 
A canção é parietal
Marieta, emocione a máxima emoção

Exploda o mundo com seu beijo de metal
Todo jogo traz o fogo do dragão 
O Sol só brilhará se houver escuridão

Na higtway da informação 
Ao toque de reboque da radiação 
Raio de ataque da decifração

O universo é a ira do Iraque
Estados Unidos e Irã
Forjando seres de araque

Aracnídeos da falsa manhã 
Mascarando caras máscaras de hortelã 
Boku-Haram no pomar de Idun

Oxente, orixá, Oxum
Mar de Iansã
Pela lua de Ogum

Thor só quer torrar
Torradas de Moisés 
No coração do Torá

Ramsés, um mito do Egito
A cada segundo a humanidade dá um grito
De luto, loucura e ardor

O seio da luta é o sabre da dor
Nada sabe o sabiá sobre o voo do condor
A canção do samurai é a muralha do terror

O poeta canta sobre o sangue cinza do vulcão 
Porque as sandálias de Empédocles não fazem canção 
Treva tenaz treme o trema triturador

Traves transversais 
Torneio triangular
O raio de Tupã é tumba para Ianejar
2015

113-A PENA E O SABRE


113-A PENA E O SABRE

Tríplice suplício 
Franco-anglo-luso armistício 
Flamengo-flamenco-flâmula 
Prévio preceito artístico

O preconceito dejeta sua chama
Inflama sua cama
A mancha torpe da mortalha
Toalha torta e falha

No fio da navalha voa a fio o cangaço
Afiado estio
Teu regaço quebra os laços
Do Brasil mais varonil

Quem desenha hipnotiza
Visa o que não viu
Frenesi inchado no barril
Fiquei freguês a ver navio

Narrador de tudo o que não sabe
A pena do poeta é o seu sabre 
Que perfura perfídia perfeição 
Fere o mais álgido coração

Pedregulho, cascalho e algibeira
O mar que afoga não tem beira 
Tudo é o mais deserto antigo
Artigo do macabro ceifador

De dobrar a dor é do que vivo
Dose de abstêmia embriaguez 
A canção romântica adora a boêmia 
A noite, meretriz de traço esguio

Também ama sempre o ser mais vil 
Jura que todos são vampiros 
Pitorescos são todos os suspiros
De qualquer peito são febril

Ateu Poeta
05/08/2015